E formar uma fazenda
Hoje só tenho uma tenda
E um trator que não presta
Vou à luta, vou à guerra
Armado de moto-serra
E com o suor da testa
Vou derrubar a floresta
Quero devastar a casa
Sombria de tantos bichos
Vou limpar todo esse lixo
Com furor de quem arraza.
Quero desmatar depressa
Bem antes que a chuva venha
Vou reduzir tudo à lenha
E semear fogo à beça
Nas cinzas vou plantar soja
Para ter muito dinheiro
E comprar o mundo inteiro
Que está dentro das lojas
Vim duro para Rondônia
Vou derrubar a floresta
Isalubre que impesta
A nossa bela Amazônia!
(de Pedro Paulo Lomba)
Este poema, do cientista ambiental Pedro Paulo Lomba, era um dos destaques no repertório do Teatro Florestal do Rio de Janeiro. Foi escrito quando o autor era parceiro do arquiteto José Zanine Caldas, na Fundação DAM (Desenvolvimento e Aplicação das Madeiras do Brasil); e criador do Programa Memorial Rondon. Com humor sarcástico, Lomba discreve em seu poema a face mais popular e progressista de um conflito que ele denominava "Guerra da Clorofila". Atualmente conhecida como "Arco do Destamatamento", esta guerra consiste na disputa mortal por um maior lugar ao sol, entre as florestas nativas (cerrados e pantanais inclusive) e as mono-culturas de exportação (pecuária extensiva inclusive). Tais mono-culturas são um modelo econômico que está em alta desde que se encerrou, pelo esgotamento dos recursos naturais, o ciclo econômico extrativista que justificou a ocupação, a defesa territorial e, por fim, o nascimento do nosso pa-tro-pi. País ironicamente batizado com o nome da árvore que, ao lhe dar à luz, tornou-se uma espécie rara, no mesmo cenário em que fora, outrora, abundante.
A cultura hegemônica daquela colônia de exploração que um dia originou o Brasil, formatou o olhar e o comportamento do brasileiro em relação à natureza tropical. Brasileiro era, aliás, o nome do primeiro agente econômico nacional - o cara que pilhava desenfreadamente o Pau-Brasil, até sua quase extinção e, que, como os tenebrosos bandeirantes, tornou-se herói moral e cívico. Esse brasileiro ancestral via o meio natural, por um lado, como um obstáculo a ser vencido e, por outro como uma incansável vaca leiteira, cujas tetas fartas lhe permitem permanecer "deitado eternamente em berço explêndido", recebendo sempre, como um bebê faminto, sem dar em troca nenhum carinho, nenhum cuidado e nenhum reconhecimento. Parece que esse desamor crônico pela natureza tropical permeia tudo que fazemos e, ainda hoje, nos impede de planejar cidades, hidro-elétricas e agro-negócios direcionados para um futuro de paz humano-ambiental.
A cultura hegemônica daquela colônia de exploração que um dia originou o Brasil, formatou o olhar e o comportamento do brasileiro em relação à natureza tropical. Brasileiro era, aliás, o nome do primeiro agente econômico nacional - o cara que pilhava desenfreadamente o Pau-Brasil, até sua quase extinção e, que, como os tenebrosos bandeirantes, tornou-se herói moral e cívico. Esse brasileiro ancestral via o meio natural, por um lado, como um obstáculo a ser vencido e, por outro como uma incansável vaca leiteira, cujas tetas fartas lhe permitem permanecer "deitado eternamente em berço explêndido", recebendo sempre, como um bebê faminto, sem dar em troca nenhum carinho, nenhum cuidado e nenhum reconhecimento. Parece que esse desamor crônico pela natureza tropical permeia tudo que fazemos e, ainda hoje, nos impede de planejar cidades, hidro-elétricas e agro-negócios direcionados para um futuro de paz humano-ambiental.
Por oferecer-nos esse retrato íntimo do psiquismo do desmatador, "Frente Pioneira" é um dos meus poemas florestais favoritos. Preciso perceber e recriar conflitos pra gerar dramatrugias. E, como ambientalista, devo compreender o que vai na alma de meu antagonista para, um dia (quem sabe?), tocar seu coração.