sábado, 1 de janeiro de 2011

CHARLES DARWIN - Viajens Nas Florestas do Brasil

Estrada das Paineira, RIO 2010, por Cláudia Zur

“À tarde choveu muito, e senti bastante frio embora o termômetro marcasse 18°C. Logo que parou de chover, foi curioso observar a extraordinária evaporação que se começou a processar em toda a extensão da floresta. A uma altura de 30 metros, as colinas desapareciam em densa neblina branca”(1)

“Durante todo o resto de minha permanência no Rio, residi numa quinta na Baía de Botafogo. (...) A casa em que me achava hospedado estava situada bem debaixo da conhecida montanha do Corcovado. Muitas vezes me entretinha a olhar as nuvens que, rolando sobre o mar, vinham formar um manto logo abaixo do ponto mais elevado do Corcovado. (...) fiz excursões muito agradáveis pelas vizinhanças. Visitei, um dia, o Jardim Botânico, onde cresciam plantas muito conhecidas” (2)

“Em outra ocasião, tendo partido cedo, andei até a montanha da Gávea. O ar estava deliciosamente fresco e fragrante, e as gostas de orvalho brilhavam ainda sobre as grandes liláceas que cobriam de sua sombra a água clara dos riachos. Sentei-me sobre um bloco de granito e desfrutei alguns instantes vendo passar a voar perto de mim um sem número de insetos e pássaros. Os colibris parecem gostar imensamente desses recantos sombrios e solitários.”(2)

“Seguindo uma picada, penetrei no interior de uma nobre floresta e, de uma altura de 150 a 200 metros, pude contemplar um dos soberbos panoramas tão comuns ao redor de todo o Rio. Vista dessa altura a paisagem atinge o máximo de brilho em seu colorido; e todas as formas e sombras ultrapassam de tal modo tudo quanto um europeu possa jamais ter visto em sua terra natal, que não sabe como há de expressar as emoções em seu espírito. O efeito geral sempre me trazia à mente o cenário das óperas nos grandes teatros.”(2)

“O concerto mais paradoxal de som e silêncio reina à sombra dos bosques. Tão intenso é o zumbido dos insetos que pode perfeitamente ser ouvido de um navio ancorado a centenas de metros da praia. Apesar disso, no recesso íntimo das matas, a criatura sente-se tomada por um silêncio universal. Para o amante da história natural, um dia como este traz consigo uma sensação de que jamais se poderá, outra vez, experimentar tão grande prazer.”(3)

“O dia passou-se deliciosamente. Mas delícia é termo insuficiente para exprimir as emoções sentidas por um naturalista que, pela primeira vez, se viu a sós com a natureza, no seio de uma floresta brasileira.” (3)

  1. Cabo Frio, 19-04-1832
  2. Rio, de 23-04 a 05-07-1832
  3. Salvador, 29-02-1832

VIAGEM DE UM NATURALISTA ATRAVÉS DO MUNDO, Volume I
de Charles Darwin, tradução de J. Carvalho, ed SEDEGRA, Rio, 19??
pgs 46 a 53

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